quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cidadania passa pelo mouse: Secretaria e Prefeitura de Porto Alegre desenvolvem projeto de inclusão digital

Apesar do brasileiro ter o hábito de navegar na internet, ainda existem no nosso país pessoas que não tem acesso a um computador, seja por questões sociais, geográficas ou até mesmo culturais. Embora a maioria acredite que "inclusão digital" seja apenas uma idéia de "internet acessível a todos", o conceito vai mais longe: abarca noções não apenas de internet, mas o próprio uso de computadores por gente de diferentes idades e classes sociais. A boa notícia é que, em Porto Alegre, graças a uma ação da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, junto à Prefeitura Municipal e à Procempa, cada vez mais pessoas saberão interagir com computadores e, assim, sentirem-se mais cidadãs.

Geração de renda e trabalho
Hoje em dia é muito difícil encontrar um emprego sem ter noções de informática, porém, nem todos fazem parte da geração "que já nasceu com o mouse na mão" e, infelizmente, também não são todos quem podem comprar um computador. Desta forma, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, atualmente chefiada pelo secretário Nereu D'Avila, vem desenvolvendo o projeto Cidadania Digital desde 2005, cujo objetivo é oferecer um acesso público à informática, através de telecentros equipados com microcomputadores, com softwares e conexão a internet. Porém, de acordo com Carla Gut, coordenadora dos TeleCentros, a inclusão digital não é só ensinar a pessoa a ligar o computador e teclar: mais do que isso, inclusão digital é fazer com que a pessoa possa, com seus novos conhecimentos adquiridos, gerar renda, encontrar um trabalho, integrar-se socialmente.

O programa
O programa da SMDHSU atualmente coordena mais de 30 telecentros pelo município, e ainda que problemas, como dificuldade de instalação em áreas longínquas, o o projeto tem obtido bastante sucesso. Cada telecentro (cujos endereços podem ser encontrados aqui) possui no mínimo 10 computadores e conta com o trabalho de três estagiários, que funcionam como monitores, dando aula para as pessoas.
Ainda, cada espaço é fruto de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, a própria Secretaria, que faz a parte de logística, bem como treina e prepara os monitores, a Procempa, que analisa as áreas, faz as instalações e cuida da parte de rede propriamente dita, e associações de moradores e creches, que fornecem o espaço físico e são responsáveis pela manutenção do lugar: cuidados, limpeza, etc. (na foto, Jairo Vaz, assist. na Coordenação dos TeleCentros)

Brilho nos olhos
Jairo Vaz, assistente na Coordenação dos Telecentros, conta que, apesar de existirem telecentros funcionando em toda a cidade, são aqueles que atendem as comunidades mais carentes que trazem os melhores resultados: ele diz que os jovens que freqüentam esses telecentros parecem dar mais valor ao que é ensinado, reconhecem o trabalho e sabem que estão criando uma oportunidade de crescerem não só como profissionais, mas como pessoas também. Jairo ainda observa que hoje em dia os jovens já "nascem sabendo" mexer em computadores, aprendem rápido, e que os alunos da terceira idade ainda tem muito receio, "medo" das máquinas, entretanto, neste ano já se formaram duas turmas, uma com 46 e outra com 80 alunos, e em novembro outra turma se formará.
Ainda sobre a terceira-idade, Carla afirma que é muito emocionante e gratificante ver essas pessoas "com os olhinhos brilhando" quando navega, quando aprende a enviar um email e fazer uma pesquisa na internet.
(foto: Felipe Blazckiewicz, monitor)

Se comunicar sem medo
Felipe Blazckiewicz é monitor no TeleCentro localizado ao lado da SMDHSU, na Cidade Baixa. Ele conta que está há mais ou menos duas semanas trabalhando como monitor. Na verdade, começou trabalhando na própria Coordenadoria, "quebrou um galho" como monitor, gostou e acabou ficando. Ele acrescenta, orgulhoso, que foram os próprios alunos que pediram para que ele ficasse, pois gostaram das suas aulas. Para ele, a melhor parte do trabalho é saber que as pessoas estão aprendendo e perdendo seus receios de se aproximar de um computador. De acordo com Felipe, o próprio nome do projeto, "inclusão", já diz muito: antes, as pessoas não tinham noção nenhuma, não sabiam, tinham medo de ligar um computador, e agora, após o curso, podem sair de lá diferentes, se sentindo mais parte da nossa sociedade, cada vez mais informatizada.
E são pessoas como José Carlos, que está agora começando a conhecer esse tal mundo dos computadores, que realmente sentem a importância dessa inclusão na sua vida. José Carlos disse que buscou o telecentro por iniciativa própria, pois tem muito interesse em aprender a mexer num computador, fazer uma pesquisa, enviar um email: "não quero ser especialista, só quero aprender bem pra poder me comunicar", ele disse.
(foto: José Carlos, aluno de um dos telecentros da SMDHSU)

Mais pessoas fazendo parte de um mundo cada vez mais conectado
Talvez mais importante do que oferecer financiamento para compra de computadores, são ações como esta, desenvolvida em Porto Alegre, que realmente oferecem a oportunidade das pessoas se incluirem digitalmente. Não adianta a pessoa poder comprar uma máquina se não souber usar, porém, iniciativas educativas como a da SMDHSU oportunizam a chance para pessoas tão diferentes, desde jovens da periferia até uma terceira idade receosa porém curiosa, de mudar de vida, de expandir seus horizontes e buscar novas alternativas em um mundo cada vez mais conectado.
(foto: TeleCentro localizado na Rua João Alfredo, 607, na Cidade Baixa, em POA)